Pesquisa de aluno de Medicina com colaboração de docente é publicado em revista científica britânica
Mouzarllem Barros dos Reis e Karina Zoccal desenvolveram um estudo que usa um corticoide para tratar picadas de escorpião amarelo em locais onde não há soro antiescorpiônico
O estudo do aluno do 2º período de Medicina do Centro Universitário Barão de Mauá Mouzarllem Barros dos Reis, com a colaboração da docente do curso Karina Furlani Zoccal, foi publicado no periódico do grupo Nature, uma revista científica interdisciplinar britânica.
A pesquisa faz parte do doutorado de Mouzarllem na Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto na USP e mostra resultados promissores no que diz respeito ao uso de um corticoide de fácil acesso para tratamento de picadas de escorpião amarelo (Tityus serrulatus).
Publicação na Nature
Para o futuro médico, a publicação na revista científica Nature é um marco na carreira, até porque o grupo divulga alguns dos estudos científicos mais importantes para a humanidade, como a descoberta da estrutura de dupla hélice do DNA.
“A Nature é um periódico de alto fator de impacto e relevância no meio acadêmico, com rigorosos critérios de qualidade para publicações, o que torna ainda mais fascinante ter minha tese de doutorado publicada”, afirma.
Para a docente Karina, a sensação não é diferente, principalmente, porque o estudo é uma continuidade de suas pesquisas realizadas no doutorado e pós-doutorado na USP.
“Tenho uma enorme satisfação em colaborar com este trabalho. Foram muitas investigações, experimentos, noites em claro e discussões para a conclusão da pesquisa, que retorna para sociedade como um tratamento rápido e acessível para os casos de envenenamento, prevenindo mortes em decorrência da ausência do soro antiescorpiônico”, ressalta.
Formação
Formado em Biomedicina, Mouzarllem iniciou a pós-graduação em 2014 na área de Imunologia, concluindo o mestrado em 2016 e o doutorado em janeiro deste ano.
Após seis anos de estudos, percebeu que deveria partir para a área de Medicina. Foi quando escolheu o Centro Universitário Barão de Mauá.
“O curso de Medicina da Barão sempre foi referência na região. Apesar da aprovação em outras instituições, a Barão foi a melhor recomendada por egressos e amigos que já estudaram na instituição. Tenho excelentes expectativas em relação ao curso e todas elas têm sido atendidas”, afirma.
Pesquisa
Para chegar ao resultado, os pesquisadores avaliaram a inflamação desencadeada pelo envenenamento e a relação com os neurotransmissores em camundongos.
“Após a injeção da peçonha, ocorre a disseminação até atingir a circulação sanguínea do animal. Nos casos severos, o reconhecimento do veneno por células de defesa resulta na liberação de mediadores de inflamação, sobretudo a interleucina 1 beta (IL-1β), que leva à produção de prostaglandina-2 (PGE2), que – por sua vez – induz a produção do neurotransmissor acetilcolina, provocando alterações pulmonares e cardíacas”, explica a professora doutora Karina.
Segundo Mouzarllem, o estudo demonstrou pela primeira vez que, nos casos mais graves, ocorre uma reação que pode levar o paciente à morte. Outro fator observado foi que a reação é capaz de ser bloqueada com o uso de um corticoide.
“A peçonha do escorpião amarelo ativa a resposta imune que modula o sistema nervoso autônomo, contribuindo para as manifestações clínicas, em especial a disfunção cardíaca e mortalidade durante o envenenamento. O estudo propõe o uso de um corticoide, a dexametasona, para tratamento inicial em locais onde não há soro antiescorpiônico”, esclarece.
No entanto, os pesquisadores ressaltam que, como a pesquisa foi realizada em camundongos, é de extrema importância a realização de estudos clínicos.
O estudo foi coordenado pela professora doutora Lúcia Helena Faccioli da Universidade de São Paulo e teve o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do estado de São Paulo (Fapesp).
Picadas de escorpião
Segundo dados do Ministério da Saúde, em 10 anos, o número de picadas de escorpião no país quadruplicou. Foram 40.287 casos em 2008 e 156.833 em 2018, o que equivale a quase 450 pessoas picadas por dia.
Só no estado de São Paulo, foram 30.077 acidentes e 13 mortes em 2018, de acordo com o Centro de Vigilância Epidemiológica.
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